domingo, 7 de fevereiro de 2016

Os filmes do Oscar – SICARIO: TERRA DE NINGUÉM (três indicações)


Por Ricky Nobre



A guerra às drogas sempre foi tema no cinema. Os filmes de gangster no início da década de 30 faziam enorme sucesso enquanto a Lei Seca vigorava, e mesmo depois de décadas, filmes continuaram sendo feitos sobre o período. Narcotraficantes foram grandes vilões de filmes de ação, principalmente a partir da década de 80. Nos últimos anos, as mais diversas produções foram realizadas apenas sobre um traficante em particular, Pablo Escobar, entre filmes, séries e novelas. Porém, desde o início desta década, a discussão sobre a guerra às drogas mudou de rumo. Líderes mundiais, sociólogos, especialistas em segurança e saúde pública e até a ONU apontam o que não se pode mais negar: a guerra às drogas, travada moderadamente por todo o século XX, mas intensificada de verdade a partir da iniciativa de Nixon em 1971, falhou e está perdida.


Sicario talvez seja o primeiro grande filme americano a problematizar o assunto de alguma forma. Kate (Emily Blunt) é uma agente do FBI especializada em situações com reféns que acaba descobrindo uma casa com dezenas de corpos emparedados, numa operação que também acabou matando alguns policiais. Ela então é convidada a participar de uma força especial de combate ao narcotráfico que estaria na pista dos verdadeiros culpados pelo o que houve na casa. Inicialmente informada de que operariam na cidade americana de El Paso, próximo à fronteira mexicana, ela e a equipe rumam para o México e tudo que se passa dali em diante está fora de seu controle. Praticamente todas as ações executadas pela tropa podem ser consideradas ilegais e Kate continua sem saber qual a sua função ali, além de entrar em acaloradas discussões com os coordenadores da missão, tendo em vista a flagrante ilegalidade de tudo. 


Dependendo da sensibilidade e das visões do espectador sobre narcotráfico, guerra urbana, segurança pública e estado de direito, a percepção sobre Sicario pode mudar bastante. É inegável a habilidade do diretor Denis Villeneuve em criar uma atmosfera incrivelmente tensa, onde, ao lado de Kate, não sabemos de nada do que está acontecendo, enquanto todos os demais envolvidos parecem ter total domínio da situação. Todas as iniciativas de Kate em agir dentro da legalidade são podadas ou desencorajadas, sob o ponto de vista de que são totalmente inócuas, o que ela mesma chega a admitir a certa altura. Toda a sensação não é a de uma operação policial, mas militar, agindo com legalidade discutível em território estrangeiro. 


O tom do filme não é, em momento algum, panfletário, muito pelo contrário. Cabe ao espectador indignar-se e horrorizar-se ao lado de Kate ou simpatizar com os que prosseguem firmes no propósito de enfraquecer o absurdo poderio do tráfico a qualquer custo, não importando os métodos. Por fim, o que fica acima de discussão é a imagem de um governo norte americano que prossegue vigoroso numa guerra que diversos países já começam a reconhecer como ultrapassada, brutal e impossível de vencer.

INDICAÇÕES AO OSCAR
Fotografia: Roger Deakins
Música original: Jóhann Jóhannsson
Edição de som

Um comentário:

Unknown disse...

Eu também gosto dos filmes de Denis Villeneuve. Você já viu o seu trabalho neste ano? Eu fiquei muito animada quando eu vi o trailer do seu filme no ano passado. A verdade sempre acompanhei o trabalho desse diretor, e quando soube que lançaria o filme Blade Runner e li a Blade Runner sinopse amei. Esse homem é o melhor. Seu trabalho é excepcional, seu estilo e personalidade estão bem marcados neste filme, acho que ninguém teria feito um melhor trabalho que ele. Esse é um filme que se converteu em um dos meus preferidos. É algo muito diferente ao que estávamos acostumados a ver. Recomendo!