segunda-feira, 27 de julho de 2015

SENSELESS: DESCONFORTÁVEL, PERTURBADOR E INTRIGANTE

Por Eddie Van Feu

Já que me tornei stalker do Jason Behr, fui atrás de seus filmes. Para minha tristeza, não são muitos, mas está sendo uma viagem interessante. Depois de alguns filmes de terror, esbarrei em Senseless, e então eu me senti muito estranha...


Não aconselho nem indico esse filme para fracos. Não se encaixa na categoria de terror como nós o conhecemos com fantasmas ou banhos de sangue. Pelo contrário, é um filme elegante, chique, inteligente. E horrivelmente assustador! É um filme muito estranho e muito esquisito. O maior efeito colateral dele foi nos fazer pensar nessa cultura de premiar qualquer coisa com nossa atenção e como isso pode ser usado (e é) por pessoas e grupos mal intencionados.


A história é assustadora por si só, porque podia acontecer com qualquer um. Eliot Gast (Jason Behr, que é de fato um excelente ator e nos convence em cada minuto, o que só aumenta a agonia) é um jovem e promissor executivo que está subindo rápido, até ser raptado por um grupo político extremista (eles dizem que não são extremistas. Eu e o Eliot Gast discordamos). Acompanhamos tudo pelos olhos de Eliot, na pele de Jason Behr, e a sensação é meio claustrofóbica, embora ele tenha o melhor quartinho de sequestro que já vi (sequestro francês é outra coisa). Ele é mantido lá por semanas, sob o olhar de várias câmeras que transmitem esse Big Brother macabro para o mundo todo, e quem pagar pode sugerir o que fazer com ele. Não fazem nada de bom, claro. Em flashbacks, vemos alguns remorsos de Eliot, e percebemos um karma meio aditivado pra cima dele, porque erros todos cometemos. O problema é que querem fazer dele um exemplo do imperialismo americano e blá blá blá. A sensação de desconforto do filme é crescente, até eu me flagrar gritando e tapando os olhos. O fim é diferente do que eu esperava. Acho que fiquei mal acostumada com o Liam Nilsen destruindo Paris atrás da filha...


O saldo final, ao menos para mim, foi positivo. O filme aborda o perigo do nosso lado curioso e faz uma pergunta sinistra. SE ninguém (NINGUÉM) assistisse aos vídeos de terroristas degolando pessoas, eles teriam um motivo para continuar fazendo isso? SE nos recusarmos a receber essas mensagens sangrentas, como eles as enviariam? Em dado momento, Eliot implora que parem de assistir porque ele não aguenta mais. Mas ninguém pára. Lembrei de um C.S.I. dirigido pelo Tarantino onde Nick Stokes (George Eads) é enterrado vivo com uma câmera que transmite seu tormento. Seus colegas precisam apertar um botão de tantos em tantos minutos para continuar assistindo e é o que fazem, para só depois perceberem que isso também diminuía o oxigênio do refém. Será que cada vez que vemos um vídeo de crueldade estamos tirando o oxigênio da vítima? Será que toda vez que compartilhamos no Facebook uma história de injustiça dizendo um genérico e indignado "Isso é um absurdo!!!" não estamos infringindo mais uma dor ao Eliot Gast? Se a vida imitasse a arte, quantos de nós não clicariam no play?



Às vezes, eu fico muito indignada e faço até umas grosserias para quem compartilha vídeos cruéis no Facebook. Algumas poucas vezes, por curiosidade, eu cliquei. E fiquei com aquelas imagens me assombrando para o resto da vida! SÉRIO! Algumas das piores lembranças que tenho na vida vieram por vídeos e não aconteceram comigo. Mas ainda me assombram...


Bom, já deu para perceber que o filme mexeu comigo! Acho que era a proposta do diretor Simon Hynd. O elenco é de três pessoas, basicamente. O Barba Negra mascarado (Joe Ferrera), a enfermeira (Emma Catherwood) e o refém. Joe Ferrera estava muito bem no papel de terrorista que ora era simpático, ora assustador. A enfermeira me deu raiva, mas não foi culpa da atriz, mas da personagem. E Jason Behr, o motivo de eu ter embarcado nessa trip sinistra, estava muito bem... Considerando que o filme inteiro dependia de sentirmos alguma empatia por Eliot, foi uma bela jogada terem escolhido Jason, que é alguém que desperta a simpatia. Não sei se foi uma piada, mas colocar máscaras de Ets nos seus torturadores foi, no mínimo, muito cruel!



Então, deixo você com uma reflexão sobre essa liberdade e anonimato que a Internet nos dá e sobre como isso não nos torna isentos das consequências. Pra quem quiser conferir (pessoas sensíveis, não vejam, não pela violência, porque vocês já viram pior em qualquer Tela Quente, mas pela tensão que a situação provoca), o filme é raro, mas eu o achei nesse link. Segue o link da legenda também.







Acho que preciso de uma bebida agora.

Um comentário:

Gabriel Maia disse...

Não apenas adorei a crítica, como me deu extrema vontade de assistir o filme.