terça-feira, 11 de setembro de 2012

LOBOTECA: Resenha do livro "Delenda"

Por Sandrini

Pessoal, faz tempo que não dou as caras por aqui, mas isso está prestes a mudar!

E como a Bienal nos trouxe coisas demais (livros e mais livros!) e ainda estamos um pouco naquele clima, hoje venho fazer a resenha de um dos livros que eu adquiri. A autora se chama Amanda Reznor, o livro se chama Delenda e se passa numa vila pequena chamada Vale dos Segredos (o qual a autora diz, que ainda será palco para muitos enredos), como está escrita em sua resenha: Delenda é uma dessas estórias que rega o Vale, mas não é a única, nem isolada, podendo ser cruzada com volumes futuros.


Mas, indo à Delenda então, do que se trata o livro?

A personagem principal, Cláudia, é uma adolescente normal em seu aniversário de 18 anos, mora apenas com a sua avó numa pacata cidade comum. Fora os pesadelos que a atormentam desde criança, nada em sua vida é anormal... Até o dia em que ela recebe uma herança inesperada do avô que nunca conheceu.

Entre muitos desenlaces, ela decide ir ao Vale dos Segredos. Cláudia se mostra uma menina de personalidade forte, fazendo suas próprias decisões - e arcando com as consequências delas. Não acreditando no sobrenatural, sempre buscando uma explicação racional para tudo, até mesmo no final ainda ficamos com dúvida sobre o que ela pensa a respeito, depois de ter vivido tudo o que viveu.

Devo dizer, à medida que fui lendo, minha cabeça se embaralhava ao mesmo tempo em que as peças do quebra-cabeça iam se encaixando. Ao mesmo tempo em que nos dá certeza, ainda deixa uma ponta de dúvida. Certamente, muitos ganchos foram deixados para futuras histórias paralelas ao Delenda, sem deixar de fazer esta história em si fazer sentido.

A escrita se torna fria em certas partes, não nos deixando entrar na pele do personagem por, justamente, estar um pouco falha de sentimentos. Algumas cenas nos fazem compreender (e sentir) apenas o que a personagem tem fisicamente; seu lado emocional, por vezes, fica jogado de escanteio.

A autora também costuma jogar os fatos na cara do leitor. Como um tapa! Se você entendeu porque apanhou, consegue acompanhar a história; caso contrário, vai ter que voltar algumas páginas pra entender o que aconteceu. E em seu modo de escrever, Amanda sempre deixa uma dúvida: isso é real, ou apenas minha mente? Caso em que temos que continuar lendo para entender se tudo aconteceu mesmo, ou não.

Amanda Reznor gosta de brincar com a questão de “bondade e maldade” nas pessoas. Para ela, ninguém é 100% bom ou ruim, e foi um belo artifício de joguete. Muitos personagens, ditos à primeira vista como “loucos” ou “insanos”, estão apenas confusos e seguindo sua verdade. Outros, gentis e bondosos, mostram que “as aparências podem enganar”, e é isso que temos ao final da história. É algo que te faz imaginar o que o velhinho bondoso da esquina da sua casa, aquele que alimenta os gatos de rua e dá comida aos pobres, já deve ter aprontado em toda sua vida. Vai saber!

Se eu puder falar da estrutura do livro, foi uma das coisas que mais me atraiu no Delenda. Com páginas totalmente negras e letras garrafais brancas, entre os capítulos, a autora narra acontecimentos “de fora” da cena atual, mostrando o que acontece enquanto todo aquele desenrolar prossegue. Seres e fatos, apenas escondidos, mas ali o tempo todo.

Vale dos Segredos é um lugar que nos faz refletir: com tanta beleza, tanto na paisagem quanto nas pessoas, ainda é palco para muita coisa horrenda e agoniante. Nos remete à reflexão: Porque o ser humano sente essa mistura de fascínio com repulsa? Muitas vezes correu o pavor nas minhas veias; um certo masoquismo psicológico, uma tortura agradável aos nervos. É igual a quando vemos uma cena bizarra e arrepiante, de tortura ou de morte: metade do nosso ser é impelido a fechar os olhos, e a outra metade quer ficar lá e assistir a tudo.

Para o bem ou para o mal, se eu tiver que descrever Delenda com uma única palavra, seria: surpreendente. Acho que, para um primeiro livro, está mais que aceitável.

E cuidado, muito cuidado ao ler este livro: Vocês podem passar a temer as sombras do dia.

2 comentários:

Nanael Soubaim disse...

Na verdade as sombras costumam me evitar, especialmente quando o sol está inclemente, então elas somem de verdade. Mas agradeço pelo aviso e pela resenha.

Amanda Reznor disse...

Muito obrigada pela resenha e pelo espaço! Adorei a opinião, e com certeza os toques que a Sandrini me deu irão me ajudar nos próximos livros =]

Ah, e Nanael, essas sombras que eu descrevo na minha estória são justamente temíveis por assombrarem até mesmo o mais obscuro dos seres... Ninguém fica livre da punição de Anagké, a inefável, o destino ;)

bjs,
Amanda Reznor